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Wednesday, December 26, 2007

Verbo Amar

Vim caminhando pela rua imaginando o florido, das cores verde, azul e vermelho. Um buquê! Tal qual num caleidoscópio! Tracei-o em teu olhar.

E figurou-se em minha mente o reflexo de teus olhos sorridentes. Daqueles que acompanham a tua boca, de largo expressar.

Nos cabelos prateados o brilhante das estrelas que me fez jurar. De amor e poesia. Nos abraços, o sentir a pele tua, lisa, suada e eternamente desejada.

Na voz brandiu-se uma vontade de te querer, aqui e naquele momento. E estar a te contemplar.

Dos carinhos nos meus olhos você a me ver e perceber.

No teatro você a rir e a me fazer feliz, nos sussurros a te dizer o quanto me faz amar.

As pernas grossas a espreitar, e minhas mãos a apertar. E te puxar a longos beijos e ao shopping passear.

E a tua filha a encontrar. Tão formosa em sua alma. Tal como a mãe. E eu quase a lacrimejar, do belo momento de mãe e filha a se entreolhar. Belezas diversas em cada pestanejar. Ali parado a admirar. É o materno querer bem. Ai, sou um tolo a me emocionar. Com pedidos de amplexos da mais nova e diálogos sinceros da mais formosa.

Lá caminharei, a sempre, e mais e mais te desejar.

Friday, December 21, 2007

Post Gigante

 
Oito dias

Por oito dias... Caminhamos pela ilha. Mergulhamos em águas límpidas. Ensinei-te a nadar. Beijei-te no mar. Se dependurou em mim, nos abraçamos. Passeamos por trilhas. Avistamos pássaros. Admiramos o verde da mata. Visitamos cachoeiras. Almoçamos comida caseira. Compramos bugigangas. Tomamos chuva bem agarradinhos. Fizemos amor e dormimos encantados. Brincamos na praia e subimos pedras. Enveredamos por caminhos desconhecidos. Visitamos ruínas. Andamos de barco. Tomamos Sol e cuidamos um do outro. Dei-te comida na boca. Beijei-te. Escorregamos em nossos corpos. Suamos e sorrimos.

Como é bom estar contigo.

Fomos felizes por oito dias na ilha que é dos deuses.

 

O Toque

Ainda sinto os dedos longos e rígidos a deslizarem entre os meus.

Envolvendo minha pequena mão. Encaixe perfeito! Intensa surpresa!

As palmas colando-se imanizadas pelo desejo.

Mãos que se buscavam, feito peças de quebra-cabeça já perdidas e esquecidas pelo tempo. Não mais duas, ímpar!

Energia gerada, aquecimento veloz, uma corrente 220v de pura sensualidade.

Dedos que se aninhavam e se possuíam. O todo espalhando radiação, nas veias, percorrendo o corpo, apossando-se d'alma e instalando-se definitivamente nas entranhas.

Transe total! Delírios sensoriais jamais imaginados.

Sabendo-se o final, nada mais importava! Nem mesmo o resvalar ousado no pescoço, este arrogante ponto erógeno com dificuldade se fez presente por um breve e ínfimo momento, sendo-o permitido para não se esvair o encantamento.

O resto? Andar, falar, ver, ouvir....

Nada me lembro! Somente meu coração acelerado e cérebro paralisado!

Eu, em êxtase frenético e furtivo, em derradeiro caos...

Ela

 

Deusa Grega


Nua, decidiu como numa brincadeira se envolver no lençol e traçar contornos de uma fantasia de Deusa Grega. Linda, se admirando no espelho fiquei a admirá-la. Num amplexo, peguei-a e num momento juvenil, me atirei na cama, puxando-a comigo com seu corpo por cima. Abracei-a mais forte com desejos de carinho. Ficamos ali por alguns momentos nos olhando pelo espelho instalado no teto, nos querendo e gostando. Risadas divertidas foram dadas e rolamos pelo colchão bagunçado em alegrias, ternuras e muito amor.

 

Fê - IV


Fazendo o jardim,
Fui pego de surpresa,
Fera a estraçalhar braços e peito
Faiscantes olhos.
Fugi, tentei, voltei.
Feixe de forças espirituais.
Faceira criatura, a passear
Facetas mil, ora feroz, ora suave
Filou o corpo e o coração
Fascinado pela pele, penugem perfeita.
Fazer o quê?
Fina flor de encantos mil

Agora


Quero te inundar de beijos
Sentir teu corpo
Abraçá-lo e sentir te junto a mim
Num abraço apertado perder a noção de tempo
Puxar os sentimentos mais fugidios para dentro do meu ser
Captar as boas vibrações vindas dos céus
Transmitir a ternura dos deuses
Passar o que há de melhor no mundo para você
Poder no amor te dar a alegria mais completa
Fazer-te a mais feliz das criaturas
Tudo e agora!
E sempre!

Rimas de ocasião


Acertou em cheio com essa poesia de Álvares de Azevedo*!
Já não tenho mais medo!
Realmente estou amando e muito.
Sei que na vida é esse o intuito.
Se sou poeta não sei.
Sei que tentei.
Mas, o gosto por poesia e pelas pessoas está em mim.
Em especial por uma, com bochechas em vivo carmim.

* A poesia de Álvares de Azevedo em questão:

"...Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida.
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
- Foi poeta - sonhou - e amou na vida."

Thursday, December 20, 2007

Estarei

Quando a manhã chegar
Estarei com a chaleira no fogo
A esquentar a água do nosso café

E depois o teu cor-po a de-cor-ar
Revirar e puxar

Rolar as curvas pelo lençol branco
E o triângulo a focalizar
Objeto do desejo
No carinho do desenho

Quando caminho pelos ares de Copacabana
Lá estou
Pensativo

Nos arredores não tem lugar que
Se visto não é lembrado
Cada momento!
Da felicidade nos instantes.
Intensos

Nas flores, o olhar do verde
A estar no rosto
No corpo, na camiseta
E na calcinha

Buscar sempre
Os teus beijos e você a suspirar
Nos amplexos apertados e no “um”
Querida, amada.

Cairo

Thursday, October 25, 2007

Quem somos nós?

Alguns nos confundem com paixão, mas somos ternos, carinhosos e sólidos.
Somos afetuosos e sempre te olhamos de uma forma meiga, passando os melhores sentimentos e cuidados.
Envolvemos-te, encostamos em você, passamos pelos cabelos, pelo rosto, pelo corpo, suavemente. Às vezes causamos arrepios.
Mesmo diante das situações complicadas, somos acionados, aliás, nessas ocasiões é que comparecemos com mais força.
Diante da ansiedade, dos incômodos, a calma se faz presente. Somos complexos. Difíceis de encontrar.
Dá conforto, traz paz, harmonia e na verdade faz muito melhor a quem pratica do que ao outro.
Quem somos nós?
Somos todos o amor, temperados com a ternura, carinho, compreensão, paciência e respeito.

Thursday, October 18, 2007

Torpedo de Cores

As cores do meu ser clamam por matizes
A pintar coisas em que a imaginação se devaneia.
Das mais intensas, os sentimentos mais belos.
Das brilhantes, o carinho no olhar.
E dos tons, o som do amor.

Wednesday, October 17, 2007

Dos sentimentos sou
De carinhos também
Se sentes o meu amor,
Sabes que é profundo,
Cheio de ternura e sincero,
Verdadeiro. Quase virginal
Como uma criança,
Puro, forte, intenso
De muitas palavras e ações,
Cuidados

Coração a pulsar,
E levar
Nos beijos o doce
Paladar de toda
Uma alma
No olhar a alegria
Do estar,
Do conviver,
Do sentir

Transparência,
Serenidade,
Sorriso embutido no rosto
Mesmo sem lábios mexer
Felicidade
Plena
Categórica
Indescritível
Impossível de se esconder
Assim sou
O amor

Tuesday, October 16, 2007

Escrever

Escrevo porque sinto, porque tenho necessidade de expandir, de dar uma face aos meus sentimentos. Eles são arrancados do fundo d’alma no qual sinto o coração pulsar e tudo é trazido à tona. É feito com toda a vontade, com toda a energia e principalmente com o amor. Fica à flor da pele, forte, rascante, cortante e supremo.

Dos momentos suaves aos quase imperceptíveis. Ele está por aí dentro do meu ser e espalhado por onde passo. De tão robusto, ele percebe a amada, junta-se a ela, a sente. Mesmo longe é capaz de transmitir esse grandiosa emoção. Intensas sensações de tantos instantes, de gestos e palavras.

Tuesday, September 18, 2007

Reverências

O vento se curva para você passar
O Sol brilha concorrendo com seus sorrisos
O mar banha o litoral tornando-o puro como tu és
Os pássaros cantam inspirados em sua voz
As árvores respiram seu odor
Os bichos procuram abrigo em seus braços
As crianças buscam em ti a ingenuidade
As brisas vêm te refrescar
E o suor a ti contemplar

Os maus pensamentos sucumbem diante de sua bondade

Se queres um mundo perfeito, já o tens
Tens o envolto em você
Muitos se aproximam da sua estrela
mas só conseguem permanecer à sua volta
quem de fato pode te dar amor e carinho
verdadeiros

Para alguns pode parecer piegas ou exagero essas
linhas mal escritas mas eles não sabem o tamanho
do carinho, amor e desejo que tenho por ti, por isso
pouco me importo

Está aqui um pequeno rascunho - de poucos minutos - a dialogar com
o computador e pensando em ti, meu amor.

Thursday, September 13, 2007

Ferótica

Faz de mim gato, gata
Afaga e morde, e arranha
Vem aqui se arreganha
Lambe e alisa beata

Abocanha e delicia
Depois me pede: enfia
Mexe e remexe muda
Tira essa bermuda

Te meto e ponteio
Sangue doce ferve
E te despenteio

És minha verve
Abraço e aperto
Nua, a descoberto

Tuesday, September 11, 2007

Elucubrações na Madrugada

Penumbras penetrantes vão pelo quarto adentro
Fingem-se sombras de corpos nus
O estandarte próximo à parede ilumina os arredores
Lá para o alto é possível ver as imagens
Inseridas em momentos êxtase
Estáticas descansam em poças
Vidros e plásticos nas estantes
Cortinas e fumaça na janela
A porta aberta
Pela greta passa um facho de luz
Olhares espremidos
Desejos soltos
Roupas pelo chão
Sapatos ao canto
Farpas de emoção
Cochicham como numa reunião
Sozinhos a se olhar
Alisam as pernas e braços
Avistam para ter certeza
Se entrelaçam, coxas realçadas
Bumbuns arrebitados
De repente puxam um lençol
O frio vem congelante para as costas molhadas
Abraçam-se, sorriem
Um instante de amor

Tuesday, August 28, 2007

Desenhos da natureza

Samambaias esmaecidas na parede
Torso da mulher amada nua
Fagulham na minha carne crua

Penugens nas sombras do corpo
Reflexos da paisagem da janela
O sol morrendo no horizonte

Pedras pelas calçadas desfavorecidas
Crianças alegres riscando o chão
Contorno das folhagens densas

Nuvens que vêm e vão
Aproximam-se e afastam-se
Num piscar e retornam a se unir

Luz da lua clareando a noite
Rugas nos rostos sofridos
Brilhos das folhas da palmeira

Fugas das luzes do Sol
Cascas e sulcos das árvores
Caminhos em troncos pela mata

Pedras que anunciam a vista
Folhagens e cactos no rastro
Paredão sólido se anuncia

Suores pelo corpo cansado
Lábios secos, com sede
Maçãs e bananas a alimentar

Sorrisos nos jovens rostos
Certezas dos sentimentos
E uma baía a contemplar

O líder

Rascantes bebidas sobre um manto amarelo.
Dos filisteus, próximo a fidalguia.
Acenava a todos, sereno rosto.
A praça apinhada de gente.
A repetir-lhe o gesto.
Nobre pensar e poliglota.
Murmúrios de paz. Esparsos instantes.
Foi-se o líder.

Friday, August 17, 2007

O amor

Em grandes fachadas, liberadas de ar em mármores lascadas com manchas de cinza antes se impunha o enorme colosso.

Onde agora assoviam os ventos e curvam as pequenas palmeiras. Suscitam o esplendor do caminhar da moça.

O vestido é soerguido num ventilar desavisado. Ela o segura, busca o cabelo no rosto os põe para trás, delineia aos olhos de seu contemplador o pescoço alvo e fino.

Até ali andava despreocupada. Parou para avistar a sacada da construção antiga. Uma casa barroca, e detalhes de curvas e desenhos. O amor lhe invadiu.

Comprometimento

Comprometimento. O que significa exatamente isso?
É estar atento aos seus afazeres. Doar-se, buscar soluções. Vislumbrar o que está por vir. Empenhar-se nas tarefas. Usar de afinco para que tudo saia o melhor possível. Comprometer-se. Pensar, pensar, pensar, trabalhar, trabalhar, trabalhar. Ver além. Se inserir no projeto. Sentir-se envolvido. Dentro do ambiente. Em alguns momentos, “sair” para ter uma visão externa. Enxergar com outros olhos o que se está fazendo. Ajustar. Acompanhar. Estar atento a todos os pormenores. Ir a fundo, ver os detalhes, as entranhas do processo. Mergulhar fundo. Sentir o trabalho como parte de seu corpo, de sua alma. Unir-se, ser um só. Poder estar no meio da confusão, de uma tempestade e mesmo assim ter consciência e serenidade para tomar as melhores decisões. Quando se está verdadeiramente comprometido, a segurança aflora. Os atos já estão definidos só é necessário que alguém os tome para si. Gerenciar o trabalho e a vida.

Saturday, August 11, 2007

Na curva

Grandes fachadas, liberadas de ar, em mármores lascados com manchas de cinza.
Onde assoviam os ventos e curvam as pequenas palmeiras.
Suscitam o esplendor do caminhar da moça.
No seu vestido soerguido num ventilar desavisado.
Ela o segura, busca o cabelo no rosto os põe para trás mostrando o pescoço longo, fino e sensual.
Até ali andava despreocupada.
Parou para avistar a sacada da construção antiga.
A casa branca tem detalhes de curvas e desenhos.
As admira, suaves olhares de carinho e nostalgia.
Lembra agora da tarde em que pararam na janela do Centro e ficavam a admirar o prédio em tons de rosa.
E também a escada suspensa.
Rua escura, local de desejos.
Na curva da vida finalmente encontrou a reta do amor.

B e X

Xagina e Bert Grandão andavam soltos pelo bosque. Era um local branco e com muitos reflexos. Bert estava tenso e endurecido em função da ocasião em que se encontrava. Xagina encharcada, meio que suada pelos mesmos motivos. Cada qual reagia de uma forma diferente, embora em seu íntimo estivessem sentindo a mesma coisa.

Estavam unidos, entrelaçados, envolvidos naquele instante. Sentiam-se intensamente. Eram como um só e apesar do ambiente anterior ser inóspito se sentiam muito bem próximos. Seus odores os atraíam mutuamente. Bert lhe fornecia o calor do seu corpo e Xagina o acolhia e o cobria com a sua manta. E assim ficaram por alguns minutos...

Tuesday, August 07, 2007

Cartas de Amor

Cartas de amor I - Freios

Fê,

meus freios estão enguiçados. Contaminados pelo amor que sinto por você. Pelo desejo eterno. Pelas inúmeras formas de carinho que as tenho pela Fê. O dia em que não enxergar mais o brilho da ternura em meu olhar terás certeza de uma coisa, a minha morte espiritual. Daquela que nunca se recupera.

Meus verdadeiros freios estão contidos nos caminhos que podem te levar a tristeza mesmo que por um segundo. Nesses combato com todas minhas forças, pois se sou feliz agora é porque essa trilha foi me indicada por entidade soberana e sabedora dos meus desejos em trazer harmonia e felicidade entre dois corpos e almas: você e eu.

Beijos e uma inumerável vontade de trazê-la comigo para um mundo feliz e de muito amor, paz e compreensão.

L.


Cartas de Amor II - Mensagens

Fê, minha amada!

És nobre ao compartilhar comigo mensagens tão valorosas e significativas. Daquelas que trazem verdadeiros valores e buscas éticas do ser.

Incutidos em amor verdadeiro, textos tais como esse* são para serem impressos e disponibilizados em cabeceiras para que sempre possam ser consultados quando o rumo por ventura se entortar.

Fê vais vencer por que és linda. Linda como pessoa e de tantos carinhos e sonhos.

"Convence-te de que a vitória espiritual é construção para o dia-a-dia."

Amo-te e sempre estarei contigo para protegê-la. Atento às suas tristezas para que rapidamente sejam convertidas em felicidades e sorrisos.

No fundo de minha humildade, saiba que aqui tens um guerreiro do amor que busca dar aos seus amados, o conforto e o bem-estar espiritual. E que nele se depositam todas as esperanças por uma luta sem fim, mas que a cada batalha culmina no maior dos valores humanos: O AMOR VERDADEIRO.

Beijos, L.


* texto referido:

Não desanimes.
Persiste mais um tanto.
Não cultives pessimismo.
Centraliza-te no bem a fazer.
Esquece as sugestões do medo destrutivo.
Segue adiante, mesmo varando a sombra dos próprios erros.
Avança ainda que seja por entre lágrimas.
Trabalha constantemente.
Edifica sempre.
Não consintas que o gelo do desencanto te entorpeça o coração.
Não te impressiones nas dificuldades.
Convence-te de que a vitória espiritual é construção para o dia-a-dia.
Não desistas da paciência.
Não creias em realizações sem esforço.
Silêncio para a injúria.
Olvido para o mal.
Perdão às ofensas.
Recorda que os agressores são doentes.
Não permitas que os irmãos desequilibrados te destruam o trabalho ou te apaguem a esperança.
Não menosprezes o dever que a consciência te impõe.
Se te enganaste em algum trecho do caminho, reajusta a própria visão e procura o rumo certo.
Não contes vantagens nem fracassos.
Não dramatizes provações ou problemas.
Conserva o hábito da oração para quem se te faz a luz na vida íntima.
Resguarda-te em Deus e persevera no trabalho que Deus te confiou.
Ama sempre, fazendo pelos outros o melhor que possas realizar.
Age auxiliando.
Serve sem apego.
E ASSIM VENCERÁS.

(Psicografado por FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER. Do livro "Astronautas do Além").

Friday, August 03, 2007

Momento Gregório de Mattos

Expressões amorosas a uma dama a quem queria - a Maria dos povos, sua futura esposa.

Discreta e formosíssima Maria,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora,
Em tuas faces a rosada Aurora,
Em teus olhos e boca, o Sol e o dia:

Enquanto com gentil descortesia,
O Ar, que fresco Adônis te namora,
Te espalha a rica trança brilhadora
Quando vem passear-te pela fria.

Goza, goza da flor da mocidade,
Que o tempo trata, a toda a ligeireza
E imprime em toda flor sua pisada.

Oh não aguardes que a madura idade
te converta essa flor, essa beleza,
em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.

Gregório de Mattos




Aos afetos, e lágrimas, derramadas na ausência da dama a quem queria bem.

Ardor em firme coração nascido;
Pranto por belos olhos derramado;
Incêndio em mares de água disfarçado;
Rio de neve em fogo convertido:

Tu, que um peito abrasas escondido;
Tu, que em um rosto corres desatado;
Quando fogo, em cristais aprisionado;
Quando cristal, em chamas derretido.

Se és fogo, como passas brandamente,
Se és neve, como queimas com porfia?
Mas ai, que andou Amor em ti prudente!

Pois para temperar a tirania,
Como quis que aqui fosse a neve ardente,
Permitiu parecesse a chama fria.

Gregório de Mattos

Thursday, August 02, 2007

Soneto de Agosto

Tu me levaste eu fui... Na treva, ousados
Amamos, vagamente surpreendidos
Pelo ardor com que estávamos unidos
Nós que andávamos sempre separados.

Espantei-me, confesso-te, dos brados
Com que enchi teus patéticos ouvidos
E achei rude o calor dos teus gemidos
Eu que sempre os julgara desolados.

Só assim arrancara a linha inútil
Da tua eterna túnica inconsútil...
E para a glória do teu ser mais franco

Quisera que te vissem como eu via
Depois, à luz da lâmpada macia
O púbis negro sobre o corpo branco.

Vinicius de Moraes

Wednesday, August 01, 2007

Encontros

És fonte do meu equilíbrio. Antes de te reencontrar andava trôpego pela noite. O amor não mais existia em meu coração. Tu avivaste a chama do meu ser e do meu tesão, que te confesso estava adormecido. Não desejo outras mulheres, pois sei que é contigo o meu êxtase mais sincero. Não importa quantas irão me assediar, serei sempre seu, assim como tu sempre minha. Sinta em eternidade cada carinho dado quando estou contigo. A distância nos separa, mas, quando juntos somos um só. Fonte de prazer e de alucinações. Transportamos-nos na cama, entramos em sublimação. O céu é testemunha dos nossos suores que invadem o espaço. São encontros mágicos e momentos transcendentais.

O homem que falava com pássaros

Era um homem de poucas palavras, vivia a maior parte do tempo isolado, apesar do bom caráter.

O periquito verdejante lhe trazia as boas notícias, a rolinha faceira as inconfidências e as fofocas, o gavião, imperativo, indica os caminhos. A canarinha branca, o amor e a ternura.

E por fim, o corvo, sinal de mau agoro, foi expulso.

Monday, July 30, 2007

À espera da amada


Christopher Blossom - Waiting for the tide
Como é belo o mar e o céu. Mais bonitas são suas formas e brilhos por entre as calçadas no velho Centro. Seu andar transporta a gentileza com que a natureza te fez em harmonia. E nos leves passos de princesa por onde passa seu perfume causa desvairo. Traz as antigas sensações de doçura e lascívia do teu corpo. Fico a te esperar do outro lado, noutro bairro na vontade de seus beijos e quadris. Para no dia seguinte te abraçar e meter em nosso cantinho. Alisar sua pele e suas sinuosidades. Possuir-te em fogo e suor. E logo em seguida ter te abrigada no meu peito em suspiros. E os olhares nos espelhos se encontrando...

Wednesday, July 25, 2007

Humberto


Dr. Gachet: Man with Pipe (L’Homme a la Pipe) - Vincent van Gogh - 1890
Beto é um homem muito inteligente, perspicaz e romântico. Às vezes ingênuo por acreditar muito nas pessoas. Com o decorrer dos anos se tornou desconfiado ao menor sinal de enganos e mentiras. No entanto, isso é facilmente contornado com uma boa dose de entrega e sinceridade da outra pessoa. Não gosta de joguinhos e prefere pessoas verdadeiras e sensíveis.

Numa noite, numa boate, Beto conheceu Mirna. Mirna era amiga de uma colega de academia. Ele a viu pela primeira vez ladeada por Renata e Elaine. Renata, linda, com um corpo de mexer com qualquer homem foi alvo de seu olhar primo naquela noite, mas ela estava desligada e parecia ter alguém. Elaine também muito bonita já era um pouco mais velha e um charme capaz de chamar a atenção de qualquer um que a olhasse. Mirna tinha um belo sorriso, não tão linda como as demais, mas igualmente interessante.

Concentrou-se em Mirna, a alvejava vendo-a como caçador. Buscou mais informações sobre aquela balzaquiana com Carlota. Estava sozinha, sem namorado, totalmente desimpedida. Beto estava num momento especial, tinha um bom emprego, acabara de um comprar um bom carro e vinha de uma conquista de causar inveja a muito homem. Essa mulher, no entanto era muito garota e ele não se dera muito bem com seus amigos. Sentira-se desconfortável com os papos. Muito imaturos para ele. Já estava em outro nível. E aquela menina tinha só 21 anos e ele 32. Não que a idade fosse problema, mas sua mente funcionava como se tivera quase 40, dado os relacionamentos que tivera antes. Quase sempre se relacionou com mulheres mais velhas que ele.

Voltemos a Mirna, sua boca alegre e a simpatia o encantaram. Em dado momento partiu com tudo. Tinha que ser naquela hora. Puxou-a para dançar e alguns minutos de troca de vistas tentou beijá-la. Ela quase resistiu, meio que embaraçada pela investida, mas ao mesmo tempo atraída por ele, beijou-o. Sem o deixar explorar toda, mais como algo entre um selinho e um beijo ardente.

Ele sempre fora de grandes paixões e investira muito em cada contato com as mulheres, as paparicava e as tratava como rainhas. Algumas vezes se dera mal com esse seu jeito. No entanto, Beto é um homem diferente de qualquer outro. Não é egoísta, é companheiro, gosta de ternuras e ao mesmo tempo se considera um tarado quando o assunto é sexo. Gosta muito da coisa, talvez por causa de sua vida sexual iniciada muito cedo.

Prefere tomar as rédeas da situação, que a mulher se doe ao máximo, pois tem certeza que tem equilíbrio suficiente para não desprezá-la ou parar com os mimos só porque já a conquistou. Para ele sua amada deve ser conquistada todos os dias, mas também é capaz de esfriar só porque a sua companhia o esnoba ou joga com seus sentimentos. Não gosta de sentir ameaças. Tem plena consciência que é um grande conquistador e por isso não se sente inseguro. Jamais traiu qualquer uma de suas namoradas, esse é outro ponto totalmente diferenciado de qualquer homem. Preza o que o outro sente e não quer ninguém magoado e triste principalmente por causa dele.

Mas, resgatando Mirna, ela foi sua parceira ideal por vários anos. Sua primeira noite foi estranha e pouco engraçada ou trágica, ele ainda não sabia ao certo. Passara o dia inteiro, um sábado, jogando futebol e fora se encontrar com ela. Lá pelas nove horas da noite, havia ficado na peleja por mais de sete horas seguidas. Era incansável. Um atleta. Pois, bem, foi sem nenhuma pretensão se encontrar com Mirna em sua casa. Era um dia chuvoso, aliás, chovia muito. Ela morava com a irmã e mãe, mas naquele dia em função do forte aguaceiro, estava sozinha e decidiu então doar-se. Em um dado momento começou a tirar a roupa em meio a uma penumbra. Ele adorou, fitou-a com desejo, mas não à primeira vista não gostou muito do que viu. Não a achou muito atraente, mas gostava muito dela. Ela despertava uma leve atração, o suficiente para aquele garanhão querer cobri-la. Como ainda estava sobre os efeitos alucinógenos proveniente do próprio organismo em função da enorme atividade esportiva, demorou muito a ter uma ereção. Somente lá pelas onze da noite conseguiu finalmente ter uma relação com ela. Não fora grandes coisas, não se conheciam muito e aquele comecinho o deixara muito tenso. Desde lá, criou uma espécie de bloqueio em relação aos primeiros encontros com mulheres. Era vigoroso na cama e tinha energia de sobra, mas a maioria das primeiras investidas passaram a ser duvidosas. Depois de um tempo, pouco tempo, diga-se de passagem, suas relações entravam no eixo e agradava em cheio a qualquer mulher que fosse. Ao longo de sua vida, despertou muitas paixões nas mulheres, arrebatadoras seria o mais certo. Suas mulheres nunca mais o esqueceriam.

Alguns anos depois, diante de uma relação tranqüila que o agradava em cheio, sem sobressaltos. Com poucas brigas entre os dois, afinal ele não era dado às discussões e tão pouco um ou outro davam margem as mesmas, se separaram porque o desejo se esvaiu. Não porque ele ou ela deixassem de gostar um do outro, mas porque ela passou a fugir de suas tentativas durante a noite ou madrugada. Ela como forma de sair da situação criara ou tentava fazer uma programação que os ocupasse todas as noites com encontros com amigos ou festas. Isso o deixou cada vez mais chateado. Tinha tesão por ela e queria mais contato com Mirna. Ela era do tipo caladona na cama, não pedia muito e não o ajudava a buscar tanto o seu prazer – erro maior da maioria das mulheres: esconderem suas fantasias e desejos e até posições preferidas. Mesmo assim ele tinha certeza que a fazia gozar. Talvez o ritmo que ainda permanecia nele não mais conseguia se manter nela, tanto é que ela vivia com sono enquanto ele sempre se sentia inteiro. Poucos diálogos a respeito foram efetuados até que em dado momento ele começou a sentir mais atraído por outras mulheres. Não tinha o que lhe cabia em casa. Como Beto é realmente um macho distante dos outros, fugiu da traição e deu-lhe um ultimato: “precisamos de mais tempo sozinhos!”. Ela disse que iria mudar, mas daqui a uma semana nada mudou. Então, ele saturado por meses de tentativas de alterar o panorama se coube a terminar o relacionamento que era de vários anos. Terminou num dia oito do mês corrente e já em 22 estava arrastando asas por outra, não por insensibilidade, mais por simples atração – que se apagara no romance anterior. Fora também o destino que o colocara agora diante daquela loira estonteante conhecida alguns meses atrás. Fora uma empatia, mas sem nada mais do que isso por causa de sua posição sempre fiel. Beto seria um bom exemplo?

Sunday, July 22, 2007

Comunique-se


Book - Richard Artschwager
Anteontem, 20 de junho foi publicado, o texto: “Olhos Verdes” no site Comunique-se, seção Literário.

Para acessar diretamente o texto* clique aqui

Ou então, veja-o aqui no próprio blog

É o sétimo texto do autor publicado no site.

* necessita de cadastro no site

Monday, July 16, 2007

Madrugada na cidade


Narragansett Bay from Jamestown (pair) - Charles Wilson Knapp - 1870
As gaivotas voavam em fila, com rasantes sobre o espelho d’água. Repentinamente, mudaram de curso. A formação agora estava em forma de “V”. Buscavam uma térmica para lhe diminuir o esforço e flutuar entre o mar e o céu. Passavam neste momento em frente à barca. Vistosas, com o peito alvo estufado para frente, pareciam estar orgulhosas pelo belo espetáculo que davam. Revoadas, acertos, mudanças, planadas, desvios, refluxos.

Os ventos lhes davam um ar de força. Vigorosas e leves. Vinham com as asas fortes, abertas, resistindo ao empuxo dos calafates. Depois, deslizavam pela brisa sem esforço como se aproveitando do momento.

Escorregavam pelo céu, felizes, soltavam pipiares de êxtase. Navegavam junto com as embarcações gostando do rastro dos peixes frescos. Avistavam mais longe, viam seu destino em deleite. Jovens aves, crianças,... queriam se divertir.

Alimentavam-se dos peixes e da agradável paisagem da baía. De um lado o Rio, o Pão-de-Açúcar e o Cristo Redentor, do outro a Fortaleza de Santa Cruz e as paradisíacas praias de Niterói.

Morros, mares, florestas, riachos, rochas se incluíam no lindo amanhecer da cidade.

Tuesday, July 10, 2007

Êxtase


The Unmade Bed - Robert Colquhoun
Teu belo corpo, me banho
Sereno, de amores e luxúria
No afã do ato me lanho
Em suas unhas em fúria

Nos seus pêlos pubianos
Inspiro-me de vontades
Penetro na sua castidade
Com meu mastro peniano

Entre cabelos molhados
De suor, vejo seus olhos
Brilhando e apertados

Êxtase, nossos refolhos
Entre as coxas me enfio
Em nada mais me desvio

Thursday, July 05, 2007

Tempo de poesia – com duplo “T”, de ternura e tesão


Heart Break Hotel - Raymond Leech
Há um poeta em mim que Deus me disse...

Há um poeta em mim que Deus me disse...
A Primavera esquece nos barrancos
As grinaldas que trouxe dos arrancos
Da sua efêmera e espectral ledice...

Pelo prado orvalhado a meninice
Faz soar a alegria os seus tamancos...
Pobre de anseios teu ficar nos bancos
Olhando a hora como quem sorrisse...

Florir do dia a capitéis de Luz...
Violinos do silêncio enternecidos...
Tédio onde o só ter tédio nos seduz...

Minha alma beija o quadro que pintou...
Sento-me ao pé dos séculos perdidos
E cismo o seu perfil de inércia e vôo...

Fernando Pessoa



Sonetilho do Falso Fernando Pessoa

Onde nasci, morri.
Onde morri, existo.
E das peles que visto
muitas há que não vi.

Sem mim como sem ti
posso durar. Desisto
de tudo quanto é misto
e que odiei ou senti.

Nem Fausto nem Mefisto,
à deusa que se ri
deste nosso oaristo,

eis-me a dizer: assisto
além, nenhum, aqui,
mas não sou eu, nem isto.

Carlos Drummond de Andrade


Confronto

Bateu Amor à porta da Loucura.
"Deixa-me entrar - pediu - sou teu irmão.
Só tu me limparás da lama escura
a que me conduziu minha paixão."

A Loucura desdenha recebê-lo,
sabendo quanto Amor vive de engano,
mas estarrece de surpresa ao vê-lo,
de humano que era, assim tão inumano.

E exclama: "Entra correndo, o pouso é teu.
Mais que ninguém mereces habitar
minha casa infernal, feita de breu,

enquanto me retiro, sem destino,
pois não sei de mais triste desatino
que este mal sem perdão, o mal de amar."

Carlos Drummond de Andrade


Soneto de Quarta-Feira de Cinzas

Por seres quem me foste, grave e pura
Em tão doce surpresa conquistada
Por seres uma branca criatura
De uma brancura de manhã raiada.

Por seres de uma rara formosura
Malgrado a vida dura e atormentada
Por seres mais que a simples aventura
E menos que a constante namorada

Porque te vi nascer de mim sozinha
Como a noturna flor desabrochada
A uma fala de amor, talvez perjura.

Por não te possuir, tendo-te minha
Por só quereres tudo e eu dar-te nada
Hei de lembrar-te sempre com ternura.

Vinicius de Moraes

Monday, July 02, 2007

Anjos – II

Angel No. 14 - Cui Xiuwen
Algumas pessoas têm a capacidade de amar quem pouco conhecem ou que jamais tiveram consigo antes. Essas criaturas são dotadas de uma energia superior, capaz de transcender os nossos entendimentos. Humanos que se dão pelo prazer de se dar e tornar alguém feliz. Por sentir satisfação num sorriso de um desconhecido. Iluminados. Anjos. O amor, elemento fundamental na nossa existência, está mais proeminente nesses seres. Pessoas enlevadas, que estão num outro nível de evolução. Hábeis, aptos, suscetíveis a atos incompreensíveis para alguns, irracionais para outros. Questionáveis para a maioria. Que vivam e permaneçam entre nós, maravilhosas criaturas. O mundo precisa delas. É a partir desses humanos que se é possível acreditar que o universo ainda pode brilhar. Esperanças. Felicitações aos anjos sardentos que conheço. Ainda bem que eles apareceram na minha vida e estão a iluminar o meu caminho. O amor verdadeiro não reconhece o egoísmo, ele vislumbra a felicidade alheia.

Presto aqui minha homenagem a essas pessoas. Lindas!

Monday, June 25, 2007

Metallica - "Pulsando"


The Musician - Violet Miller - 1906
Eu esperei por toda a minha vida
Por você
Eu cavalgo a sujeira, eu cavalgo a maré
Por você
Eu procuro do lado de fora, procuro dentro
Por você
Para ter de volta o que você tomou
Eu sei que sempre vou ser
aquele que procura

Eu esperei por toda a minha vida

Despedaçado
Eu estou despedaçado
Quanto mais eu procuro maior minha necessidade
Por você
Quanto mais eu faço feliz mais eu sangro
Por você
Você me faz esmagar o relógio e sentir
Eu preferia morrer atrás do tempo
O tempo nunca esteve de meu lado
Eu te esperei por toda a minha vida

Me escute
Se eu fechar minha mente no medo
Por favor mantenha aberta
Me olhe
E se minha face se torna sincera

Cuidado
Me abrace

E quando eu começar a me despedaçar
Junte meus pedaços

Salve-me

E quando você me olhar empertigado
Me faça lembrar do que me fez chorar

Nunca te pedi
Mas sempre te dei
Ontem me deu um vazio
E agora me levou a minha sepultura
Nunca te pedi mas sempre te dei
Ontem me deu um vazio

E agora me leve a minha sepultura
Então deixe este coração parar

Deixe seu coração ir
Deixe nosso amor crescer
Amor deixe seu coração ir
Ou deixe este coração parar
Eu preciso de seus braços para me acolher

Músicas: The Outlaw Torn e Mama Said do grupo Metallica - adaptadas

Friday, June 22, 2007

O que é uma crônica?


Tramway - Jean Pougny
Faz muito tempo que tropeço nessa pergunta no momento de classificar um texto. Normalmente fico confuso e tendo a ter dúvidas se o que acabei de escrever é um conto ou uma crônica. Aliás, acho que essa baralhada é mais comum do que se imagina. Navegando pela Internet, notei algumas crônicas com cara de conto e vice-versa.
Depois de me afundar em livros, enciclopédias e links na Web me atrevo a dar uma definição sucinta do que vem a ser uma crônica:

Reflexão a respeito de fatos cotidianos, no qual se incluem doses de sarcasmo e inventividade na percepção dos acontecimentos.

Ou seja, se não se encaixar nisso há uma grande chance de ser um conto.

Outras idéias a respeito:
- Compilação de fatos históricos refletindo, com argúcia e oportunismo, a vida social, a política, os costumes, o cotidiano etc. do seu tempo em livros, jornais e folhetins.

- Artigo de jornal que, em vez de relatar ou comentar acontecimentos do dia, oferece reflexões sobre literatura, teatro, política, acidentes, crimes e processos, e sobre os pequenos fatos da vida cotidiana, enfim, sobre todos os assuntos.

- Coluna de periódicos, assinada, com notícias, comentários, algumas vezes críticos e polêmicos, em torno de atividades culturais (literatura, teatro, cinema etc.), de política, economia, divulgação científica, desportos etc., atualmente tb. abrangendo um noticiário social e mundano

- Relato curto, em primeira pessoa, que narra uma experiência comum, cotidiana e dela tenta extrair alguma conclusão mais ou menos explícita, quase sempre de caráter lírico

- Noticiário a respeito de fatos atuais

- Matérias predominantes da crítica de costumes, a crítica política e social, onde o cronista, em algumas ocasiões, assume o lado das classes menos favorecidas.

- Texto literário breve, em geral narrativo, de trama quase sempre pouco definida e motivos, na maior parte, extraídos do cotidiano imediato

- Seção de um jornal em que são comentados os fatos, as notícias do dia: crônica política, teatral.

- Gênero literário que consiste na apreciação pessoal dos fatos da vida cotidiana.

Fontes:
- HOUAISS, Koogan. Enciclopédia Eletrônica Koogan Houaiss
- BARBOSA, Gustavo. Dicionário de Comunicação. Rio de Janeiro: Campus
- CUNHA, L. Nas páginas do tempo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. p. 14.
- HOUAISS, Koogan. Dicionário Koogan Houaiss. Editora Objetiva
- Jornal (in)formação e ação
Cecília Pavani (Org) – Editora Papirus
http://www.correioescola.com.br/2003/06/04/materia_ces_64549.shtm
- Café Impresso
http://www.cafeimpresso.com.br/Cronicas/2005/050404.htm
-Sá, Jorge de. A Crônica – Editora Ática – 94 págs – 1997
http://www.webwritersbrasil.com.br/detalhe.asp?numero=193
http://www.webwritersbrasil.com.br/arte_croni.asp
- Regina Célia
http://regina.celia.nom.br/lit.1.3histcronica.1.htm

Thursday, June 14, 2007

Tempos passados e o futuro próximo

Desertion - Marsden Hartley
Eu já estou velha e encostada num canto, ninguém mais quer saber de mim. É,... isto sempre acontece quando você fica idosa e não tem mais aquele brilho, não é mais bonita, não é mais gostosa. Tem gente que diz que panela velha é que faz comida boa. Eu sinceramente não acredito, acho que isto é uma farsa. Tem uns que dizem que preferem as mais passadas, pois já estão mais amaciadas. Depois de muito me chutarem e de muitos isolamentos fiquei um bom tempo largada, sem ser tocada. Mas, antes por anos fui acariciada. Com o passar do tempo, a rotina foi mudando. Os encontros passaram a ser vez por outra conforme os dias e anos se sucediam. Os intervalos entre nossos encontros ficavam mais longos.

Bons tempos em que viajei muito, conheci muitos lugares, alguns bons, outros nem tanto. Lembro ainda da primeira vez que vi o mar. Foi em Ipanema. Era um dia de sol, fazia um dia lindo. Quanta gente bonita. E aquela areia, ah... Era macia e limpa, branquinha, branquinha, assim como eu.

É certo que fui mal tratada muitas vezes, mas na maioria das vezes cuidada com extrema doçura. Muitas vezes fui beijada e tratada também como troféu. Nunca me importei com isto, eu até que gostava. Sentia-me mais elevada e via o mundo por cima. Todos gostavam de mim e me disputavam como muita vontade. Uns eram grosseiros. Mas, muitos tinham classe e isto sempre foi o que mais me atraiu num homem, a sua classe e seu modo como me tocava. Aliás, estou com “ele” há mais de 15 anos. Eu o conheci quando ele tinha vinte e poucos anos. Era forte, vigoroso, um corpão, mantido por suas corridas pela Lagoa Rodrigo de Freitas ou pelas Paineiras, um atleta. Gostava de ir comigo para a praia, para o clube, para Búzios... Tinha vezes que não desgrudava de mim e ficávamos o dia inteiro juntos. Adorava quando me envolvia em seus braços.

Passeei por muitos lugares: Aterro do Flamengo, Alto da Boa Vista, Lagoa, Barra da Tijuca e depois: Laranjeiras, Gávea, Niterói, Botafogo, São Cristóvão e até Teresópolis. Enfim, conheci os melhores locais que se podia conhecer.

A minha natureza sempre foi dada para esportes, eu sempre gostei mais de futebol. Minhas irmãs já eram mais chegadas a outros esportes, vôlei, basquete e até tênis. Como eu era mais “fortinha” não servia para o vôlei, em compensação minha irmã mais rechonchuda viu-se logo no basquete, percebi logo que ela nasceu para isto.

Voltando-me para “ele”, sempre o chamei de meu dono, aliás, ele fazia questão de dizer isto a todos. Em algumas ocasiões os outros é que diziam por ele: “é dele”.

A minha idade? Esta eu não revelo, onde já se viu, perguntar isto a uma senhora? Aliás, muitos me chamam de senhora como sinal de respeito, mas eu prefiro ser chamada de você.

Hoje me sinto usada e acabada. Uma inútil. Nunca se devia ficar velha. Estou jogada num canto e lá permaneço. Estou toda flácida, dado o tempo que fiquei largada ao léo.

Gostei muito de ter ido uma vez ao Maracanã para um pelada com os amigos “dele”. Eles alugaram o campo por uma baba, e isto foi só por pouco mais de uma hora e meia. Mas foi uma bela tarde.

Pelada sempre foi uma palavra mágica para mim. No entanto, gostava mais dos campeonatos das coisas à vera mesmo, mas não há quem tire o charme de uma pelada bem disputada.

Nasci em São Paulo, mas logo vim para Rio, Lembro que era época de Copa do Mundo, assim como agora. Fui muito feliz em ter vindo para cá.

Meu dono, agora não me quer mais, assim como eu, está velho e não tem mais energia e disposição para me chutar. Embora muitos da idade dele ainda gostem de um joguinho.

Quem sou eu? Sou a bola que por muitos gramados andei. E agora busco minha redenção, pois é época de Copa e o pessoal decerto quer imitar os craques e os seus ídolos. Sai que é sua Taffarel! Oops, Dida.

Escrito às vésperas da Copa do Mundo de 2006.

Tuesday, June 12, 2007

Frases - Minha Vida

Preciso morrer a cada dia para me sentir mais vivo.

Monday, June 11, 2007

Mau humor não é para qualquer um


Mask of Horror - Jean Carriès
Esposa: Está faltando leite, amor.
Marido: Porra, caralho... Vai comprar...
Esposa: O dinheiro...
Marido: Que merda! Tá pensando que meu dinheiro....
Esposa: É para o bolo do seu aniversário querido.
Marido: Ummmm.... (em tom desconcertado)
Marido: (murmura mais alguma coisa indecifrável)

Friday, June 01, 2007

Ainda indomada


Marylin - Andy Warhol
Aquela loira me deixa louco. Loura falsa é verdade. Talvez por isso mesmo é que fico imaginando o desenho de seus ralos e negros pêlos pubianos. Seus peitos inflam a camisa preta e mostram o acentuado volume. Afagar-lhes não seria má idéia, mas esmagá-los com as mãos é mais convidativo. Depois tirar-lhe os seios, arrancá-los do soutien-gorge mal empregado. Afinal são mais belos quando soltos e irrequietos. Ora, estão se pronunciando num espetar a camisetinha. Largos quadris e nádegas proeminentes realçam o corpo da cavala. Coxas grossas e um capô entre as pernas. Olhar isso de perto deixa sem graça até o mais safado dos moços. Não sou diferente, evito, mas que vem a tentação, e na esguelha espio os contornos. A imaginação vai longe.

E ela continua, se achando segura, pronta para o abate. Sinto um corpo retesado e cheio de vontades ao lhe apertar a cintura. Tensa, muda de postura, vê-se frágil. Pensa em beijos e namorado. O medo de se perder de tesão é o que lhe faz fugir das situações de toques, não gosta de ser tocada. Parece ter maior sensibilidade, daquelas que se entregam às vontades íntimas a qualquer boa investida. Nasceu para isso, sempre pensa. Na verdade não sabe, mas acha que vai bem quando o assunto é sexo.

Quer muito ser fornicada, com força e depois carinhos, é como fica em devaneios.

Copiado do blog: Erótico? (http://erotico.blog-se.com.br)

Thursday, May 31, 2007

O que é bonito é para se ler e reler


Teenage Wildlife - Cecily Brown
Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luis de Camões

Thursday, May 24, 2007

Dois elevadores


Waiting Room - Philip Hershberger
Estava a esperar um elevador, quando um sujeito foi e apertou o botão de chamada do outro elevador.

Falou meia dúzia de abobrinhas sobre a situação econômica.
Queixava-se da desorganização do país, da falta de educação do brasileiro e eu só assentia com a cabeça.

Aliás, realmente tudo que ele falava fazia o maior sentido. A má distribuição de renda. A educação já nas últimas, motivos de pilhéria. A saúde deixando a desejar - a morte de todos, os políticos etc.

Começou a entrar então em outras searas, discorreu sobre a falta de solidariedade, da educação, dos exemplos que os pais deveriam dar aos filhos. Nesse momento comecei a me incomodar.

Fiquei pensando cá comigo, tem gente que exige tanto dos outros e nada vê em si. Macaco olha teu rabo.

Afinal se estávamos naquela “conversa de monólogo” é porque decerto um egoísta, não tinha pensado nos outros e havia feito o mesmo que o reclamão ao meu lado. Relembro: ele chamou o segundo elevador, mesmo sabendo que eu aguardava um e, portanto, acionara-o. Aliás, informação fundamental, o sujeito em questão era um magnata que morava na cobertura.

Finalmente, depois de algum tempo olhando para o mostrador dos elevadores – ambos agora na cobertura – e já bastante chateado com a minha indolência ou aparente indiferença - realmente eu estava sem paciência mesmo e dizia quando muito monossilábicos “é” ou acudia com a cabeça – o ricaço disparou:

- E o senhor não vai dizer nada? Não acha que estou certo?
Insistiu tanto que,... Sorri e respondi:
- Por que o senhor chama dois elevadores ao mesmo tempo?
Um momento, uma pausa de reflexão se fez. O elevador chegou, saiu uma linda moça de lá, um anjo, era sua filha.

Wednesday, May 23, 2007

Duplo sentido


Starry Night Double Vision - Ron English
The Starry Night - Vincent van Gogh
Era uma janela, uma pequenina janela. Uma janelinha. Ela tudo via. Os que passavam na rua apressados, os namorados no portão, o jardim florido e os carros rápidos e os preguiçosos.

As outras janelas. Acenava para elas. A árvorelonge lhe trazia os passarinhos, os bem-te-vis, os pintassilgos e as rolinhas. Verde, frondosa e cheia de vida.

Olhava para os outros. Os admirava, criava nomes para cada um que passasse: Maria, Manuel, Ricardo, Clementina, Luiza, Carolina, Joaquim, Marcelo.

Não parava de pensar, refletia no chão e no rosto de muitos o Sol da manhã.

Gostava de ficar decorando as roupas. Percebia cada detalhe. “Olha aquele, usou essa blusa azul e vermelha com estrelinhas na semana passada”. Será que a lavou? Pelo visto não, está toda amarrotada. A loirinha Margareth sempre bem arrumada. Ela é muito vaidosa. Gosto dessa menina, muito sorridente.

Quem são aqueles com capacete? Nunca os vi. E aquilo que apontam para cá? Devem ser de fora. São estranhos. Vestem-se com um negócio dependurado no pescoço. Jorge saiu de casa, foi lá falar com eles. Estão assinando um papel.... Depois de dias uma sombra cresceu.

Nota do blogueiro: Nem tudo que parece é. Nem tudo em dobro é melhor. Nossos olhos estão diante da destruição do mundo.

Tuesday, May 22, 2007

Acordei no meio da madrugada

INSOMNIA FATALE - Robert Gligorov
Hoje acordei às duas da manhã. Porque eu não sabia ainda. Só sei que senti um solavanco. Um estremecer dentro de mim. Uma sensação insólita. Não foi nenhum barulho, não houve nenhum terremoto, nem mesmo alguma razão fisiológica. Acordei do nada. Olhei para o teto assustado. Caminhei até a janela. Nada vi. Nada acontecia lá fora. A noite era cheia. Raros carros passavam nas ruas. Pessoas também. Estava fria. Algo ainda me incomodava. Não sabia o quê. Um aperto no coração. Tentei dormir. Não consegui. Liguei a televisão. Desliguei a tevê. O estranhamento não arrefecia. Parei. O mundo parou. De tanto brigar na cama, cansei e finalmente adormeci. Você havia partido naquela noite. Um acidente aconteceu. Seu coração tinha parado e o meu por instantes também parou. Parou de pulsar de amor. Clamou pelos sentimentos. Brigou com o inevitável, não se conformou. Mais que a vida, aquela noite me levou a vontade de viver.

Friday, May 18, 2007

Em desalinho


Tete D'Homme II from the series - Portraits Imaginaire - Pablo Picasso - 1969
Sempre fui estabanado. Onde fosse derrubava tudo. Talvez pelo crescimento acelerado ainda quando jovem e a coordenação motora deficiente. O corpo tinha crescido e a noção de espaço não acompanhara.

Já no colégio de primeiro grau, hoje ensino fundamental, me via às voltas com as minhas pernas compridas demais. Tropeçava tanto que ganhei o singelo apelido de Tropeço numa referência a um personagem da família Adams.

Com as meninas então era um desastre, ficava todo atrapalhado. Juntava-se ao já natural desastrado uma pitada de timidez e completava-se o vexame. Era um tal de esbarrar, derrubar meninas, cair sentado e até se machucar. Depois, levantar e ver todos aos risos e apontando para mim como se fora um total retardado. Aliás, acho que a impressão era mesmo essa. Quem não me conhecia tinha por mim a nítida opinião de estar diante de um imbecil. Só quem estudava comigo, sabia das minhas notas e tinha certeza que era só mais um desajeitado.

Na educação física me escondia ao máximo, mas seria absurdo conseguir, pois era o maior da turma. Além disso, só por causa da altura achavam que deveria um excelente jogador de vôlei, basquete ou goleiro de futebol, estava eu em destaque. Mas, a descoordenação era tanta que sequer a bola acertava.

Os anos foram passando e o drama aumentando, namorar era confuso, beijar sem machucar a menina, impossível, pisar no pé, algo comum. Dançar era risível, se assemelhava mais a um pangaré num concurso de adestramento tentando ser garboso.

A partir de uma época comecei a me incomodar muito com aquilo. Perguntava-me: por que eu era assim? Acompanhar uma aula de ginástica na academia era hilariante até para mim. Enquanto todos estavam indo para um lado, lá estava um único atrapalhado no sentido contrário. Alguns mais previdentes e velhos conhecidos já se afastavam sabendo do encontrão inevitável. Os risinhos não mais existiam, já éramos adultos, mas os olhares de reprovação talvez fossem ainda piores.

Certo dia, fui convidado para jantar na casa de uma namorada. Tomei todas as precauções, me distanciei do que eu podia derrubar, dos copos à mesa e até dos vãos entre os pés do móvel. Mas, esqueci da empregada. Eis que ela veio com uma jarra de suco a servir. Perguntaram: “quer suco?”. Prevendo o pior, agradeci e recusei. Mas, a mesma voz insistiu: “você precisa provar o suco da Marlene”. Assenti com a cabeça e... virei-me bruscamente, resultado: derrubei tudo. Acachapei a empregada e o que havia por perto. Uma hecatombe completa. Apavorei-me, levantei rapidamente tentando acudir e com os joelhos fiz pior, derrubei todo o jantar. Até mesmo a ex-futura sogra me olhou com ar de reprovação e porque não dizer de insatisfação. Puxou a filha de lado e lhe cochichou algo, como que dizendo: “você namora esse idiota?”. Resultado: nunca mais vi a namoradinha.

Os traumas só fizeram crescer e até uma coisa até então despercebida me ficou mais clara. Afora acanhotado era também incrivelmente desalinhado. Mesmo de terno ficava mulambo. Por mais que as roupas estivessem bem passadas e ajustadas era maltrapilho. As vestes não caíam bem. Até para alfaiate particular apelei, nada resolvia e ainda fui obrigado a ouvir dele o seguinte: “jamais vi coisa igual, você tem altura, não é gordo nem magro, mas é sempre mal-ajambrado, parece sempre um pelintra”. Nem sabia o que queria dizer aquilo, mas boa coisa não era. Naquele dia chorei como criança, que nem como criança havia chorado.

Friday, May 11, 2007

Lá no Cícero

Woman on a Terrace - 1907 - Matisse
As aulas são diversões, um acontecimento preliminar ao recreio – a maior das alegrias – o encontro com os colegas, com as garotas.
De soslaio, acanhadas elas vêm e vão. São mais espertas.
Tudo é diversão, preocupação só com provas e mesmo assim nem tanto. Como é maravilhosa essa convivência.
As meninas ainda são garotas. A saia pregueada dá o “charme”, os rostos cheios de sorrisos e olhares acanhados completam a primeira impressão. Crianças, gurias, futuras mulheres.
Ingenuidade, cabelos soltos pululam ao som da Atlântica. Em algumas é possível ver o mar, calmo, zen, mas às vezes bravio. Todos os meninos querem saber o que se passava dentro daquelas cabecinhas que nada falam. Cochicham por entre os corredores, risinhos. Romances só com os mais velhos, conosco, amizades. Como isso nos chateia! Desejamo-las para nós. Mas a malícia ainda está longe, somos só meninos.
Elas olham para os homens. Maldita natureza que nos dá o desejo e a convivência e não nos dá as armas.
Lindas, pensam em romance, em beijos, em carinhos e no cavalheiro que as vêm buscar. Suas curvas ainda se torneiam por um corpo virginal. As brincadeiras são infantis, maldades não encontram eco. A timidez, presente nos guris, não os deixa ir adiante. Quanto tempo perdido!
A aula de educação física é o melhor dos momentos, é a hora que as veremos de shortinhos. Pernas lindas, cheias de penugens que as podemos desejar sem culpa.
Os idos de 1980 se foram, mas as lembranças teimam em nos trazer as satisfações pueris de outrora. Caros colegas como foi maravilhoso tê-los nesses anos de intensa felicidade clandestina.

Publicado no site Comunique-se em: 07.05.2007

Sunday, May 06, 2007

Cortando palavras


Anton Olea - 1996
Amor é essencial
Envolva-a
Guie-me
Reúne-se alma e desejo, membro e vulva
Só alma?
Ela se expande
Um grito de orgasmo
Corpos entrelaçados
Fundidos
São dois em um
Integração no cosmo?
Chega-se aos astros?
Etérea, eterna?
No clitóris tudo se transforma
Onde se concentraram
A penetração rompe as nuvens
Varado de luz, o coito segue
Se espraia
Além da própria vida
Carne
Gozar
Gozando
Sons, arquejos, ais
Um espasmo
Morremos um no outro
Pausa nos sentidos
Estátuas vestidas de suor
Agradece-se
É o amor terrestre

Baseado na poesia: “Amor, pois que é palavra essencial” de “Carlos Drummond de Andrade”

Wednesday, May 02, 2007

Romantismo numa hora dessas I – “Objetivo Final”

The Wanderer above the Sea of Fog - Caspar David Friedrich - 1818
Estou no meu carro e piso fundo. Fugindo não sei de quê. Olho para frente, a estrada vazia. Deve ser a sensação de liberdade. Mas, sinto que não é bem isso. É uma fuga sim. Escapando do destino, do presente, da angústia.

Falta amor. Essa é a busca incessante do ser humano. Dos filhos, dos pais, dos amigos e da sua companhia. A necessidade essencial de qualquer um.

Buscamos-nos no trabalho. No futebol. Nos bares, nos teatros, nas ruas. Mas, só isso nos completa verdadeiramente. Do quê adianta aquela promoção, o dinheiro a mais, o novo carro, a vitória do seu time se você não tem com quem compartilhar?

O afago, os carinhos dados e recebidos são o que há de mais precioso e que realmente nos tocam. O que mais nos faz sentir uma alegria indecifrável dentro do coração? Perceber o mundo melhor? Em alguns casos nos dar tremedeiras, suores estranhos, palpitações. O que mais?

Sentimentos escassos, fugidios, raros e que nunca nos habituamos por serem assim... tão incomuns. São incontroláveis e impulsivos. Querer bem. Que ação é essa?

Qual o verbo que mais perseguimos com o pé no acelerador, seja você um grande empresário ou um catador de lixo? O amar não faz distinção. Cada um a sua maneira. Modos diferentes, mas não seriam as sensações iguais?

Paremos – nesse mundo conturbado - para pensar. O que mais faz sentido? Afinal vivemos para quê? Qual o objetivo final de cada um?

Amar e ser amado.

Friday, April 27, 2007

Odeio Correr! - II


Iluminura da Crónica de Inglaterra, de Jean Warrin, representando a batalha de Aljubarrota
Hoje corri cada quilômetro para 5 minutos e 40 segundos.

E daí? Pode não ser nada demais para muita gente. Mas para mim foi uma grande vitória e quero deixar aqui registrada.

Aos mais céticos, confirmo, reafirmo e ratifico, odeio correr. Por isso é que valorizo tanto cada passo em frente. Ontem não corri, estava com algumas dores musculares e precisava de um descanso e um pouco de relax para não me cobrar tanto. O resultado foi espantoso, hoje para acordar foi o “parto da montanha”. Xô preguiça!

Já se tornou um vício – assim espero – e se paro já sei que a chance de ser em definitivo é maior, pois a morrinha ataca. Morrinha, sem chance! Interromper esse ritmo nem pensar.

Beijos.

Monday, April 23, 2007

Odeio Correr!

La Sainte-Victoire, environs de Gardanne - Paul Cézanne
Nos tempos de colégio era bem magro. Iniciei no primeiro ano com 73 kg em 1,76m e saí – já no último - com 76 kg em 1,80m. Mas, a vida não é feita somente de 2º. grau. Depois dos 30 senti que o organismo já não era mais o mesmo e que meu metabolismo tinha se alterado, era bem mais fraco. Não podia mais comer de tudo. Parar de fazer exercícios nem pensar. Pois bem, cheguei aos 84 kg e com uma barriga que nunca tinha tido. Acordei a tempo e entrei num ritmo frenético, pois bem, baixei para 82 kg e com uma taxa de gordura de somente 7%. Foi uma luta dura, mas me senti orgulhoso com o resultado. Conseguia correr e fazer muito bem todos os exercícios.
Mas, em um dado momento não sei o que me deu, parei com tudo. Cheguei aos incríveis - para mim - 90 kg! Nunca antes havia imaginado isso, ainda mais sendo tão fininho em infância. Pois bem, hoje tenho 39 anos e tudo parece ainda mais difícil. Antes conseguia correr 20 km num sopro. Atualmente, aliás, a cerca de 50 dias atrás me assustei, pois não consegui nem 2 km. Parecia o fim, me senti um velho e incapaz.
No entanto, não desisti, fui em frente e hoje estou lutando com meus 6 km por dia e meus 81 kg. E pensar que até alguns anos atrás eu conseguia correr cada quilômetro em menos de 4 minutos e na época atual - já bem melhor que quando recomecei - corro para os 6 minutos. Agora entendo porque muitas vezes via o pessoal sofrendo no teste de verificação física. Juro que antes não conseguia compreender como alguém não terminava ou corria bem devagar os 2800m.
Voltando, nesse meio tempo entre os 82 kg e os 90 kg, perdi muita massa muscular, por isso ainda aparece uma barriguinha – bem pequena mesmo - mas nada demais se comparada aos quase 2 meses atrás. É claro que corro pela estética, mas o principal mesmo é a saúde.
Tenho como meta correr melhor, ficar menos exausto depois dos 6 km e recuperar um pouco do amor-próprio.
Se você é dos que vive esse tormento, junte-se aos bons!
Todo dia é uma luta e saiba que você não é único que briga com ela, a balança!
Hoje corri 7 km! Amanhã tem mais.

Abraços.

Saturday, April 21, 2007

Passeio Cultural pelo Rio de Janeiro - I


Roteiro de Museus e Centros Culturais – um passeio pelo Centro do Rio de Janeiro

Primeiro, recomendo que se comece pelo MAM, onde sempre estão expostas obras dos mais substanciados artistas contemporâneos: brasileiros ou estrangeiros.

MAM - Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
Av. Infante Dom Henrique, 85 - Parque Brigadeiro Eduardo Gomes
Tel.: (021) 2210-2188
http://www.mamrio.com.br/


Depois, com uma caminhada de mais ou menos uns 1,5 km pode-se encontrar o Museu Histórico Nacional que fica a caminho da Praça XV e praticamente em frente ao III Comar, ou para quem preferir entre o elevado da Perimetral e o antigo prédio da LBA.
Acervo fixo com importantes obras sobre o Brasil desde os tempos mais remotos.

Museu Histórico Nacional
Praça Marechal Âncora, s/n - Centro.
Tel.: (021) 2240-9529
http://www.museuhistoriconacional.com.br/


Depois um pulinho no Museu da Imagem e do Som - que fica do ladinho - para animar os ouvidos também:

Museu da Imagem e do Som
Praça Rui Barbosa, 1 - Centro
Tel.: (021) 2262-0309
http://www.mis.rj.gov.br/

Para quem gosta de batalhas, relembrar um pouco de nossas mais vitórias no mar, recomendo visitar:

Museu Naval e Oceanográfico
Rua Dom Manuel, 15 - Centro
Tel.: (021) 2221-7626

Uma curiosidade é que foi recém reinaugurado (2006). Muito próximo ao anterior, cerca de 300 metros.

Já se deseja, um pouco de história sobre o nosso Brasil Imperial e algumas coisinhas contemporâneas pode ver no:

Paço Imperial
Praça XV de Novembro, 48, Centro
Tel. (21) 2533 4491 /2533 7762 fax: 2533 4359
http://www.pacoimperial.com.br/enterhtm/paco/conh.html

Já para quem sabe um pouco de história, vale contemplar o chafariz da Praça XV de novembro, vale uns 15 minutos de bons conhecimentos. Aliás, o local está rodeado de estátuas e referências de acontecimentos do nosso país (estátua de Tiradentes, Rua Direita – 1º. de Março, Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro). Um desbunde de cultura.
Biblioteca da Alerj

Uma caminhada pelo Arco do Teles – antigo Senado da Câmara, datado de 1790, revigora ainda mais o passado e introduz de forma suave as pessoas num ambiente de outrora.
Antigo Senado

No caminho encontramos o Centro Cultural dos Correios. Engana-se quem acha que irá só encontrar selos e cartas – o que por si só já seria magnânimo – mas sempre existem outras boas exposições.


Centro Cultural dos Correios
Rua Visconde de Itaboraí, 20, Centro.
Fone: 2503-8770
Centro Cultural dos Correios

Uma esticada na mesma rua e se encontra a Casa França-Brasil, só o visual já é um grande apelo para entrar.

Casa França Brasil, Centro de Cultura
Rua. Visconde de Itaboraí, 78, Centro.
Telefone: (021) 2253-5366
http://www.fcfb.rj.gov.br/default.asp

Atravessando a rua – de pedestres, mas com cuidado – temos o CCBB, que pelo tamanho consegue abrigar muita cultura e diversificação num só lugar. Olhar a abóbada é sempre um prazer.

CCBB - Centro Cultural Banco do Brasil
Rua Primeiro de Março, 66 - Centro Rio de Janeiro RJ - CEP 20010-000
Funcionamento: De terça-feira a domingo das 10h às 21h.
Informações pelo telefone (21) 3808-2020
E-mail: ccbbrio@bb.com.br
http://www.bb.com.br/appbb/portal/bb/ctr2/rj/index.jsp

Monday, April 16, 2007

O Que Será (À flor da Terra)

== incrível, como permanece, como é atual ===
== as partes em itálico então nem se fala ==
== para ouvir e acompanhar na rádio ==

Ouça na rádio

Chico Buarque
Composição: Chico Buarque & Milton Nascimento

1
O que será, que será?
Que andam suspirando pelas alcovas?
Que andam sussurrando em versos e trovas?
Que andam combinando no bréu das tocas?
Que anda nas cabeças, anda nas bocas?
Que andam acendendo velas nos becos?
Que estão falando alto pelos botecos?
E gritam nos mercados que com certeza
Está na natureza.
Será, que será.
O que não certeza, nem nunca terá?
O que não tem conserto, nem nunca terá?
O que não tem tamanho?

2
O que será, que será?
Que vive nas idéias desses amantes?
Que cantam os poetas mais delirantes?
Que juram os profetas embriagados?
Que está na romaria dos mutilados?
Que está na fantasia dos infelizes?
Que está no dia a dia das meretrizes?
No plano dos bandidos, dos desvalidos?
Em todos os sentidos.
Será, que será.
O que não tem decência, nem nunca terá?
O que não tem censura, nem nunca terá?
O que não faz sentido?

3
O que será, que será?
Que todos os avisos não vão evitar?
Por que todos os risos vão desafiar?
Por que todos os sinos irão repicar?
Por que todos os hinos irão consagrar?
E todos os meninos vão desembestar?
E todos os destinos irão se encontrar?
E mesmo o Padre Eterno,
Que nunca foi lá,
Olhando aquele inferno
Vai abençoar

O que não tem governo, nem nunca terá?
O que nao tem vergonha, nem nunca terá?
O que não tem juízo?


La la la la la……..

Repete 3

Wednesday, April 11, 2007

Ó Paí, Ó


Fui meio despretensioso assistir a esse filme, mas acho que até pela atitude "pré-nada" fui surpreendido por uma película leve, divertida e com alguns insights.
O começo é um pouco chatinho e parece até tentar enlevar a figura de Lázaro Ramos. Mas, depois acho que se descarregam desta atitude e os enlaces entre os personagens se dão de maneira sutil e com um tempero de juízo de valor.
É claro que o filme não é, ou não parece, ser nenhuma discussão sociológica, mas ao final - e em algumas cenas - é impossível dissociar as idéias de hipocrisia e da natureza do comportamento humano.
Outra coisa boa é que a cultura baiana é colocada sem máscaras e sem preconceitos.
Vale a pena ver.

Saturday, April 07, 2007

Gatos




Muitas peripécias desses felinos, vale a pena ver até o final!

Gertrudes

Eu entrei no banheiro e lá estava ela. Num canto, encostada na parede. Confesso que me assustei. O armário estava entreaberto, então fiquei pensando na possibilidade de a criatura ter mexido em algo. Elucubrei sobre a pasta de dente, a escova de dente – que nojo, o pincel para barba – sou das antigas e alérgico às espumas - e também sobre o pente. Mas, aparentemente nada havia sido mexido ou tocado.

Fiquei olhando-a, o mesmo ela fazia, ressabiada, será que ele vai fazer algo?

Ficamos nos fitando por alguns instantes. Aquele ser permanecia praticamente imóvel.

É claro que já havia visto uma, mas cheguei mais perto e constatei – ou recordei: em cada uma das patas existiam igualmente cinco “dedos”.

Gertrudes era cinza-castanho – quase branca, pequena e muito desconfiada. É claro que não me sentia à vontade com ela ali, mas também não achei direito tentar qualquer coisa contra ela, até porque seria uma batalha pegá-la e colocá-la para fora. Matar nem pensar. No fim das contas, fiz o que tinha que fazer no banheiro e saí. Mais tarde, a procurei, acho que senti sua falta. Abaixo a foto dela, quem a vir, por favor, me avise. Beijos.

Thursday, April 05, 2007

A Deus

Será que somos tão fortes?
Sejamos caídos pelos consortes
Imaginamos, sentimos a morte
Mesmo construído um contraforte

Pensar que algo tão pequeno
Num adeus, num aceno
Pior, fora percebido leviano
Olhava a todo momento, varsoviano

Via, mas, buscava algo de bom
Mesmo na dança de acordeom
Percebia o olhar perdido

Em soslaios noutro alguém
Era só o primeiro aturdido
Nele mesmo estava o docém

Wednesday, April 04, 2007

Positivos e Negativos



Amor, Caráter, Respeito, Paz, Comprometimento, Carinho, Lealdade, Sinceridade




Egoísmo, Leviandade, Apego ao dinheiro, Falta de Compromisso, Desrespeito, Falta de amor ao próximo, Inconsciência, Falsidade

Monday, April 02, 2007

Valores

Confesso que não simpatizei - desde que assumiu o papado - com Joseph Raztinger, o Papa Bento XVI, mas dessa vez, concordo com ele.

Ele disse que o principal valor dos homens deve ser o AMOR, que deve estar acima do dinheiro, status e do sucesso profissional.

Tuesday, March 13, 2007

Um ranzinza em Mauá


Bridal Veil Falls, Yosemite - William Zorach - 1920
Certa vez, um colega foi convencido a ir à Visconde de Mauá pela namorada. E logo foi alertado: “Cuidado, entre o Rio de Janeiro e Mauá há uma estrada muito ruim”. Mas, acho que não fui enfático o bastante e lá foi ele. Encaminhou-se bem devagar com seu carro novinho, com menos de 300 quilômetros rodados, em pleno fim de ano, especificamente, em 31 de dezembro de 2001.
Pois bem, ele voltou, conseguiu voltar! Isto já foi um bom sinal. Então me contou sua aventura e que aventura! Primeiramente pegou uma estrada engarrafada, a Via Dutra, cheia de automóveis, em função da data. Mas depois tudo bem, isto até chegar a RJ-163, que fica depois da entrada de Resende, a Estrada Via Dutra-Mauá que tem apenas 16 mil metros com um enorme pesadelo de buracos em terra batida. O pior de tudo é que tentaram reformar esta saramenha – não adianta procurar esta palavra no seu dicionário, guarde só a sonoridade que é o que vale – dizia ele. Acho que foi esta reforma que determinou a primeira aplicação de uma das leis de Murphy, nada é tão ruim que não possa ser piorado.
No que ele me disse que a via tinha sido reformada, exclamei uma sonora frase: “Ah... então foi uma viagem tranqüila!”. “Não, ao contrário, foi bem pior, com as fortes chuvas, o recapeamento se esfacelou e a estrada ficou horrorosa, com asfalto e pedrinhas soltas”, falou em tom chateado. Buracos mil e uma visão dos infernos, isto quando se via alguma coisa, pois a chuva parecia que vinha em baldes. A cada buraco, reclamava: “Que m@#%&!”. Sentia cada remexida ou patinada no seu carro como se fosse no corpo, pareciam pontadas no coração, o carro novinho tomando esbarrões, afundando num misto daquela mistura exótica de lama e excrementos de petróleo. Um solavanco, uma facada na sua barriga, assim se sentiu durante o escasso percurso... até o fim. Um pesadelo que durou pouco mais de trinta minutos, mas que pareceu uns três anos, provavelmente este foi o efeito do envelhecimento que sofreu frente ao imponderável filme de terror.
“Mas e aí? E as cachoeiras de Maromba etc.?”, perguntei. “Que cachoeira é o caramba! Nada de Alcantilado, Cachoeirinha, Poço da Areia, Poço da Raiz, das Muralhas, Maromba, marimba, maramba, marumba é o cacete!” “Que isto? Calma, não precisa ficar bravo!”“Não vi nada, naquela cidade só chove!”, disparou.“E você nem sabe de nada, ainda atolei na chegada”, complementou.“E a festa de Reveillon?”, disse. “Ta querendo me sacanear, né?. Fiquei atolado num outro caminho que levava ao destino final e não pude ir a lugar nenhum”. “Fiquei num casebre – na verdade, era uma casa enorme, muito legal e totalmente rústica – aliás, aí estava o problema. Na hora que cheguei, por volta das 22h30, o local estava escuro. E o fato da casa ser para lá de rural foi um agravante, para se ter uma idéia, a geladeira era a gás!” Lá estava ele no meio do nada, sem iluminação externa, com o carro atolado a uns 200 metros do casarão e chovendo a cântaros. E dentro deste panorama teve que rodear a casa toda, uns 600 metros quadrados, a procurar a instalação de gás, num breu total, dispondo somente de uma lanterna, pisando no chão mole e ensopado. Pronto. Achou, mas, depois só de duas horas, ou seja, sua passagem de ano foi no meio do mato, embaixo de uma chuva torrencial, procurando a caixa de energia, not found e a fonte gás, ok. “As únicas pessoas que encontrei naquela hora, mesmo que só em espírito, porque nem mesmo eles conseguiriam chegar até acolá, foram o Raoni, o Paulinho Paiacan e o Juruna. Não tá ligando os nomes ao evento? Um autêntico programa de índio!” Eis que o meu colega passou o resto da noite resmungando, como só ele consegue. Tenho pena dos ouvidos da sua namorada. Nem quero imaginar as broncas dadas na sua garota – já que ela é que planejara a viagem. Eu o conhecia muito bem pelo seu tom sempre aborrecido.
No entanto, a aventura ainda não havia terminado, finda a noite que parecia sem fim, veio o dia seguinte, o primeiro de um ano que prometia. Primeira tarefa, desencalhar o carro, já que a chuva não parava, era deste modo que ele imaginava como o veículo se encontraria, parado em alguma beira de riacho ou à deriva. Mas não, o seu Corsa continuava lá, praticamente isolado no meio da nothingland. Assim, o amigo se sentia ao olhar a sua volta. As paisagens eram iguais para o que quer que olhasse, nada, nada e nada. A autêntica terra do nada. Depois de muito caçar madeiras, galhos etc. conseguiu finalmente desatolar o carro.
“Ótimo, agora vamos ao churrasco na casa de fulaninho”, pensou. Meia hora depois estava do outro lado de Mauá com alguns amigos da Sra. patroa. Conversa vai, conversa vem, ele nota que algo está errado. Existe um clima de animosidade entre dois dos amigos de sua namorada. A carne começa a sair e o ambiente é outro.
Ali bem próximo estavam pousadas muito charmosas e românticas, lugares que tencionava levar sua garota para que o ambiente entre eles melhorasse. Entretanto o aguaceiro não dava trégua, como estavam ao ar livre, foi montada uma tenda, mas uma tragédia aconteceu e a tendilha desabou em cima da churrasqueira. Um corre-corre danado e o stress de antes reapareceu, pronto é o que faltava para os dois coleguinhas começarem a brigar entre si. Apartada a briga, alguns sopapos depois, não havia mais clima. O casalzinho amigo decidiu-se por ir embora e de barriga vazia. Sabe-se que a cidade tem um dos melhores circuitos gastronômicos do estado. E ele que tanto havia insistido por ir a um restaurante e tinha sido demovido por causa da insistência da sua cortejada! Mas, depois do desastre da carne, era o que ele precisava, então desandou a falar um monte de barbaridades para ela, que sicrano é assim, fulano é assado. Coitada dela, seu ouvido estava tão cansado que ela propôs a volta para o Rio de Janeiro. Todavia, decidiram passar pelas pousadas para saber onde poderiam ir numa próxima vez, mas o ambiente estava tão ruim entre os dois, que só fez criar mais discussões. Ele metralhava a namorada “olhe só a Verde Que Te Quero Ver-te, a Quinta da Grama, a Fronteira Arte e Lazer etc.” se referindo às pousadas maravilhosas que poderiam ter desfrutado. Cheia de tanto ouvir baboseiras e reclamações, insistiu para ir embora logo. Parecia um presságio.
No meio da estrada, já de volta ao Rio, em meio ao pé-d’água que caía, a namorada começou a passar mal e precisou, a todo custo, fazer o número “2”. Justo ali, no meio da estrada. E o depois, como fica? Como fazer? Com uma ajudinha dos guardanapos “Clean Next”, fez-se e concluiu-se, após uma encostada estratégica num cantinho da via. Surpresa maior é que, sabe aquilo que falei do meu colega lá no início? Pois é, é tudo mentira. O amigo, na verdade, era eu mesmo. No entanto, os eventos da viagem foram verdadeiros, uma das poucas jornadas que fiz em que tudo, tudo deu errado. Visitem Mauá, pois é inesquecível.

Publicado no Comunique-se em: 27/09/2006
http://www.comunique-se.com.br/index.asp?p=Conteudo/NewsShow.asp&p2=idnot%3D34788%26Editoria%3D8%26Op2%3D1%26Op3%3D0%26pid%3D25971900964%26fnt%3Dfntnl

Monday, March 05, 2007

Olhos Verdes


Sensual - Royo
Foi em meio a um mundo de fantasia que pela primeira aqueles olhos fitaram-no. Passaram-se alguns dias de intensa conquista e galanteios. Agora sentado a sua frente olhava para seus olhos verdes. Suas íris irradiavam uma alegria, uma felicidade, mesmo que pueril e fugaz. Logo abaixo seu sorriso confirmava a impressão. Fartos eram seus seios que nos “apertos” pareciam querer saltar de dentro da pequena camisetinha vermelha. Ela combinava com o interior de seu peito que palpitava.
O que fazia aquela menina-mulher se enganando numa mesa de bar? Seu sorriso era desejoso de algo mais. Mostrava por vezes um olhar de menina e outro sacana, de mulher, provocativo. Cada gesto pintava um novo cenário, instigava um ao outro, um convite ao prazer.
Suas coxas roliças apertadas numa calça cáqui queriam formar um coração junto a cintura. Elas não mostravam nada, mas estavam prontas. Seus poros eriçados a cada aproximação mais selvagem sempre se soerguiam nos seguidos beijos e mordiscadas em seus lábios, orelhas e língua.
Em algumas roçadas de corpos seus olhos se fechavam e entreabriam como se transportando a um mundo de prazeres. Os dedos viajavam pelos corpos sentindo as peles. O desejo estava à mostra e persistia por horas, a libido em alta, mas a consciência e a cultura jogavam proibindo passos mais ousados. Fases mais atrevidas eram decapitadas.
Um turbilhão de sentimentos e impulsos elétricos é no que havia se transformado aquele encontro dos corpos. Os olhares se buscavam, o que diziam aqueles pequeninos olhos verdes? Neles se viam, lá estavam os próprios reflexos. Por vezes se divertiam nesse jogo de se descobrir e um sorriso estava embutido a cada contemplar. Como pode também um olhar sorrir?
O que corpo e o coração buscam? Cada momento é único. Do que vale a vida sem emoções e trocas?
Cada respiro, suspiro e um beijo inflamado e se aqueciam e... suavam. Sensações múltiplas se concentram numa única cena. Braços se entrelaçam, corpos se tocam e buscam afagos, carinhos e apertos. Tórax se unem, bocas se enroscam, se tocam, se mordem, se exploram. Todo o corpo está voltado para aquele momento. Até os olhos se fecham, é capaz de jurar-se que até se ouve menos ao redor.
São duas criaturas num transe. O corpo se prepara para algo mais, hormônios em ebulição, tudo se movimenta dentro do organismo, medos são perdidos para que num instante a vida tome conta. Um enlace entre o mundo e aquele minuto. Para onde vão aquelas sensações? É custoso acreditar que aquelas vibrações se espalham pelo espaço e se perdem. Condensarão em forma de chuva? Contaminarão outros seres com o desejo e o amor? Se irradiarão por entre as pessoas?
Os cheiros transitavam entre os dois, as bocas suspiravam, as peles se sentiam, os toques pronunciavam os desejos, as mãos firmes puxavam os corpos em colisões suaves. Roçavam-se desejosos de estarem nus. As palavras pronunciadas, sussurradas completavam a cena.
Os momentos extasiados se fixaram naqueles olhos verdes. E permaneceram para sempre em cada memória.

Monday, February 26, 2007

A certeza em meio ao caos

Por entre os seixos, vinha sentar-se ao meu lado.
No meio da floresta, uma luz no meio da escuridão.
Entre galhos e folhas espalhadas pelo chão, pés nus sentiam a terra, sangravam machucados pelos dias de andança em busca da vida.
Penetrado na mente, era o poeta ao escrever linhas trôpegas e sem sentido.

Impressões surreais invadem; devaneios do ser humano.
Cobertas de dias passados, do que fora a noite anterior.
Perdido (Aflito)* e feliz ainda respirava os perfumes.
Visões nebulosas de felicidade, alegria e tristeza.

Melancólico e certeiro em pensamentos, nada estava perdido, tudo ganho.
Índole e instinto misturavam-se, a guerra estava vencida apesar batalha perdida.
Uma derrota era traçada no cingir das águas: trajetória vital.
Lutas por vir, pairava um ar de crescimento interior.

Ganhos de experiências e forças se avistavam, a serenidade.
Pontos acesos adiante mostravam aquilo buscado.
Emoções estáveis, criterioso, a certeza ao alcance.
Nisso se cria, os fatos, o equilíbrio fora atingido.

Publicado no site Comunique-se (Literário) em 03 de abril de 2007:
Comunique-se


* na versão do Comunique-se alterei de Perdido para Aflito.

Tuesday, February 06, 2007

O sensacionalismo e o consumismo na TV: espelho do telespectador

De uma maneira geral a TV aberta tem uma programação apelativa e voltada para o sensacionalismo e o consumismo. O imediatismo reina e as brigas por pontos de audiência distorcem o que a televisão deveria oferecer: entretenimento e boa informação. Especialistas, no entanto, apontam que é possível atingir todas as classes sociais indistintamente mantendo um bom nível de programação. Enquanto isso, as TVs por assinatura cobrem um pouco desse espaço deixado pelos programas direcionados somente ao grande público. Uma vez que entram mais em sintonia com um telespectador de perfil mais ativo - que busca informação - seja por causa de um interesse específico ou simplesmente “zapeando” com o controle remoto. Diz-se, às vezes, então, que as notícias devem interessar a alguém que não se interessa por nada.
Em meados da década de 90, o comportamento televisivo no Brasil foi alterado sensivelmente, principalmente no que concerne às classes A, B e C. Com a proliferação dos sistemas de transmissão a cabo, MMDS (os sistemas de distribuição multiponto) e DTH (por satélite) as predileções se diversificaram. Essas alternativas de programações passam destarte a se incluir num mercado até então exclusivo das emissoras convencionais. E, já em 2002, absorveram uma boa parte da população, cerca 3,5 milhões de maneira bastante rápida. Mostrando, desta forma, que apesar de boa parte das grandes massas ainda assistir alguns programas - de qualidade ruim – essa mesma fatia não gera obrigatoriamente um bom retorno publicitário. Ou seja, muitos anunciantes não estão dispostos a associar ou atingir determinados públicos – mesmo que grandes - porque isso pode não ser interessante comercialmente falando.
Apesar disso, em todo esse contexto estão inseridos alguns conceitos de comportamento sociológicos. Muito se aponta que a televisão tem o poder de acelerar a história e até modificá-la. Notório é o caso da luta de Martin Luther King pela igualdade social, no qual, ele mesmo apontou que se não fossem as teletransmissões de notícias, os negros não tinham obtido o direito a voto em 1965 nos Estados Unidos.
Da mesma maneira, o público também é visto como modificador das programações televisivas através de um processo de retroalimentação. O que se vê hoje é que devido a uma série de fatores como: a globalização, a busca por riqueza, o excessivo consumismo etc., a TV se mostra cada vez mais como um espelho da sociedade. Ou seja, se há uma permanente exibição de programas de baixa qualidade, isso se deve exclusivamente aos próprios telespectadores. É uma eleição feita pelo povo para o povo. Logo, de nada adianta criticar que é um absurdo tal programa estar no ar se existe no mínimo um comportamento de complacência com que existe e é profundamente praticado pelas concessionárias.
Liga-se a televisão e está lá o Ratinho, com suas histórias - um desperdício diante da qualidade de comunicador de massa que é. Em outro canal ou horário, vê-se um programa policial, onde um desvio de conduta é o foco e a notícia fica em segundo plano. Noutro, dá-se de cara com uma aberração ou imagens que denigrem o ser humano. Sem esquecer que naquele outro canal, o importante são as fofocas e o que aconteceu com as pseudopersonalidades, as quais, pouco têm a acrescentar de útil. O que pode interessar e ter alguma utilidade para a sociedade se fulaninho foi ou deixou de ir a uma festa ontem, ou com quem ele ficou? Aprenderemos algo para a nossa vida? O culto às falsas celebridades também é um dos cernes da superficialidade das programações das TVs.
Será que é disso que se precisa? Quantas pessoas discutem contigo sobre uma entrevista feita com determinado cientista, estudioso ou pesquisador a respeito das novas tendências sejam na tecnologia, na medicina ou nas artes? E sobre aquele documentário, alguém fala? Ao mesmo tempo, muito se percebe que uma grande maioria diz ver – mas são mentiras - este ou aquele canal ou programa que são tidos como inteligentes, cultos e úteis, mas porquê? Ora, porque muitos sabem o que é ou deveria ser visto, mas não assistem, e por quê?
De onde vem tudo isto? Reflexo de nossa cultura subdesenvolvida? Dificuldade de acesso? Certamente que não.
São os frutos de uma sociedade consumida pela pouca valorização da cultura, dos estudos e principalmente por pouca vontade política de mudança desses valores. Que se façam melhorias no processo educacional, quem sabe teremos, num futuro próximo, mais programas em que possamos nos orgulhar de assistir.

Publicada na Revista Ponto TV do Jornal do Brasil em 04 de fevereiro de 2007 - Domingo.