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Thursday, May 24, 2007

Dois elevadores


Waiting Room - Philip Hershberger
Estava a esperar um elevador, quando um sujeito foi e apertou o botão de chamada do outro elevador.

Falou meia dúzia de abobrinhas sobre a situação econômica.
Queixava-se da desorganização do país, da falta de educação do brasileiro e eu só assentia com a cabeça.

Aliás, realmente tudo que ele falava fazia o maior sentido. A má distribuição de renda. A educação já nas últimas, motivos de pilhéria. A saúde deixando a desejar - a morte de todos, os políticos etc.

Começou a entrar então em outras searas, discorreu sobre a falta de solidariedade, da educação, dos exemplos que os pais deveriam dar aos filhos. Nesse momento comecei a me incomodar.

Fiquei pensando cá comigo, tem gente que exige tanto dos outros e nada vê em si. Macaco olha teu rabo.

Afinal se estávamos naquela “conversa de monólogo” é porque decerto um egoísta, não tinha pensado nos outros e havia feito o mesmo que o reclamão ao meu lado. Relembro: ele chamou o segundo elevador, mesmo sabendo que eu aguardava um e, portanto, acionara-o. Aliás, informação fundamental, o sujeito em questão era um magnata que morava na cobertura.

Finalmente, depois de algum tempo olhando para o mostrador dos elevadores – ambos agora na cobertura – e já bastante chateado com a minha indolência ou aparente indiferença - realmente eu estava sem paciência mesmo e dizia quando muito monossilábicos “é” ou acudia com a cabeça – o ricaço disparou:

- E o senhor não vai dizer nada? Não acha que estou certo?
Insistiu tanto que,... Sorri e respondi:
- Por que o senhor chama dois elevadores ao mesmo tempo?
Um momento, uma pausa de reflexão se fez. O elevador chegou, saiu uma linda moça de lá, um anjo, era sua filha.

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